O Sol destruiu a atmosfera de Marte
Nasa esclareceu o mistério de como um planeta que já foi tão habitável quanto a Terra tornou-se um deserto vermelho
      Por
    Fábio Marton
          Atualizado em
    06/11/2015
  
 Marte, antes e hoje (Nasa Goddard Space Flight Center)
Marte, antes e hoje (Nasa Goddard Space Flight Center)
Na segunda feira, a Nasa criou um baita mistério dizendo que iria anunciar uma "grande descoberta sobre a atmosfera de Marte". A revelação, exposta numa conferência hoje à tarde, é que eles finalmente acharam a resposta sobre o que deu errado com nosso vizinho.
Analisando dados do satélite MAVEN
 (Mars Atmosphere and Volatile Evolution, "Atmosfera e Evolução Volátil 
de Marte"), eles concluíram que a atmosfera do planeta foi quase 
completamente varrida por ventos solares. Ventos solares
 são emissões de partículas, principalmente prótons e elétrons, que o 
Sol gera o tempo todo. E eles são bem capazes de jogar para o espaço a 
atmosfera de um planeta, como mostra o vídeo a seguir:
"Marte parece que um dia teve uma atmosfera densa e quente
 o suficiente para manter água líquida, o que é um ingrediente crucial 
para a vida como conhecemos", afirma John Grunsfeld, astronauta e 
administrador do Diretório de Missões Científicas da Nasa. "Entender o 
que aconteceu com a atmosfera de Marte irá nos esclarecer a dinâmica e a
 evolução de qualquer atmosfera planetária. Entender o que pode causar 
mudanças no ambiente de um planeta, de um que pode abrigar micróbios na 
superfície para um que não pode, é importante de conhecer, e uma questão
 central no que está sendo esclarecida pela jornada da Nasa à Marte."
Vizinho azarado
Marte tem uma história triste. Há cerca de 3,8 bilhões de anos, tinha uma atmosfera densa e água líquida,
 na forma de lagos, rios e oceanos, exatamente como a Terra. Isso 
permitiria ao planeta abrigar vida (se realmente existiu, ainda é um 
mistério). Cem milhões de anos depois, tornou-se o deserto que 
conhecemos.
O que a perda da atmosfera tem a ver com a água? Quando a 
pressão atmosférica diminui, também diminui o ponto de ebulição. No 
vácuo, a água nunca é líquida, apenas sólida ou gasosa. Em Marte, que 
tem uma pressão atmosférica igual a 1% da terrestre, a água evapora a 10 ºC. Além
 disso, uma atmosfera densa é necessária para o efeito estufa, que 
aquece o planeta inteiro. A combinação de baixa pressão e muito frio faz
 com que, hoje em dia, Marte praticamente só tenha água no estado sólido
 ou gasoso.
Por que o mesmo não aconteceu aqui? Porque a Terra, 
diferente do vizinho, tem um campo magnético. Esse campo desvia os 
ventos solares ? a gente ainda perde um pouquinho de atmosfera, mas é 
irrelevante em comparação com Marte. Esse campo é formado pelo movimento
 do ferro fundido abaixo da crosta. O que quer dizer que um planeta 
precisa ter o interior quente para ter campo magnético. Marte esfriou 
rapidinho e, segundo a Nasa, perdeu seu campo magnético há 4,2 bilhões 
de anos. A atmosfera começou a vazar até que, há 3,7 bilhões de anos, 
era rala demais para manter água líquida na superfície.
Fuga constante
O ar marciano continua a vazar. A Nasa calculou que a 
perda de atmosfera em Marte hoje em dia é de 100 gramas por segundo. É 
uma micharia, e o pouco que restou deve ainda durar por mais 2 bilhões 
de anos. Mas nem sempre foi assim: mesmo hoje, quando ocorrem as 
tempestades solares, emissões nas quais o vento solar é muito mais 
violento, esse valor se multiplica por 10 ou 20. No passado, quando o 
Sol era jovem e muito mais ativo, essas tempestades eram mais comuns e 
violentas. Então, para as contas fecharem, nosso pobre vizinho um dia 
perdeu entre 100 a 1000 vezes mais que hoje. Ainda assim, levou até 500 
milhões de anos.
Pra terminar, uma pergunta feita aos cientistas na 
conferência: pode acontecer aqui? A Terra só perde o campo magnético nos
 eventos de inversão de polos. Mas eles levam meros séculos, e isso não é
 nada na escala geológica.
 
 
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