O caso mais antigo de decapitação humana no Novo Mundo foi encontrado em Lapa do Santo, sítio arqueológico que fica em Minas Gerais, no Brasil.
A descoberta foi feita pelo arqueólogo André Strauss, do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva, na Alemanha, e seus colegas. O estudo foi publicado na edição de 23 setembro da revista científica de acesso aberto PLoS ONE.
Decapitação: o achado
O sítio arqueológico Lapa do Santo contém indícios de ocupação humana que remontam a 12.000 anos atrás. Ferramentas de pedra e ossos de animais encontrados no abrigo sugerem que os grupos pré-históricos que viviam ali subsistiam de plantas e da caça de pequenos e médios animais.
Em 2007, pesquisadores descobriram fragmentos de um corpo enterrado, o qual chamaram de “Burial 26”, que incluía um crânio, uma mandíbula, seis vértebras cervicais e duas mãos decepadas.
Foi determinado que os restos tinham 9.000 anos, usando espectrometria de massa. Os cientistas acharam as mãos amputadas dispostas sobre o crânio e observaram marcas de corte em forma de V na mandíbula e na sexta vértebra cervical do indíviduo. A mão esquerda apontava para cima e cobria o lado direito do rosto, enquanto a mão direita apontava para baixo e cobria o lado esquerdo da face.
Os ossos foram enterrados cerca de 55 centímetros abaixo da superfície, sob lajes de calcário, o que sugere que eram parte de um sepultamento ritual deliberado.
Com base na análise de estrôncio comparando a assinatura isotópica de outros espécimes de Lapa do Santo, os pesquisadores sugerem que o decapitado era provavelmente um membro do próprio grupo, e não, por exemplo, um inimigo cuja cabeça foi tomada como troféu.
Cortando cabeças por esporte
Decapitação era provavelmente comum no Novo Mundo. Por exemplo, na América do Sul, cabeças de inimigos derrotados eram frequentemente utilizadas como troféus de guerra – o povo Arara na Amazônia brasileira utilizava crânios dos inimigos derrotados como instrumentos musicais, os Incas transformavam crânios em frascos de bebida, e o povo Jivaro do Equador usava crânios para aprisionar as almas dos seus inimigos. O povo Uru-Chipaya na Bolívia também já empregou crânios em rituais cristãos modificados, e a cultura Chimú no Peru incorporou decapitação como um procedimento padrão em sacrifícios humanos.
“Poucos hábitos ameríndios impressionaram os colonizadores europeus mais do que a tomada e exibição de partes do corpo humano, especialmente quando decapitação estava envolvida”, disse Strauss, principal autor do estudo.
Ainda não está claro por que essa decapitação ritual em Lapa do Santo ocorreu, mas os pesquisadores creem que os locais podem ter usado esses restos para expressar suas ideias a respeito da morte e do universo.
Se este for o caso, esse crânio pode demonstrar rituais mortuários sofisticados entre os caçadores-coletores nas Américas durante este período de tempo, levando a uma reavaliação das interpretações anteriores desta prática, nomeadamente no que diz respeito a suas origens e dispersão geográfica.
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O exemplo mais antigo é do… Brasil!
Até agora, o mais antigo caso relatado de decapitação ritual na América do Sul conhecido tinha ocorrido há 3.000 anos no Peru. O mais antigo exemplo conhecido na América do Norte tinha acontecido cerca de 6.000 a 8.000 anos atrás, na Flórida.
Além disso, cabeças decepadas encontradas na América do Sul eram tipicamente descobertas na cordilheira dos Andes, o que (anteriormente) sugeriu que a decapitação começou como uma prática andina. A nova descoberta sugere que a decapitação ritual pode ter começado em outro lugar.
Esse lugar pode ser o centro-leste brasileiro. A região tropical de proteção ambiental na qual o crânio foi encontrado é conhecida como Lagoa Santa e coberta de vegetação tipo savana, assim como florestas. A área foi explorada pesadamente no século 19 por pesquisadores que procuravam evidências de interações entre seres humanos e animais pré-históricos gigantes, como tigres-dente-de-sabre.
Na caverna Lapa do Santo, os pesquisadores já haviam encontrado a evidência mais antiga de arte rupestre na América do Sul, que incluía desenhos de pênis, de cerca de 9.400 anos de idade.
No futuro, os pesquisadores esperam extrair e analisar DNA dos restos encontrados, para saber mais sobre a pessoa a quem os ossos pertenciam.
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