sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O AQUECIMENTO GLOBAL, DE QUEM É A CULPA?

ONU relatório agravamento do aquecimento global
O agravamento do aquecimento global é um assunto sério que todo mundo já está careca de tanto ouvir falar. Mas nem por isso encontramos soluções ou mudamos atitudes que possam pelo menos desacelerar esse quadro.
Os riscos de passarmos por mudanças climáticas são tão profundos que poderiam parar ou até mesmo reverter todo o progresso que a humanidade fez até agora contra a pobreza e a fome. É isso o que diz o último relatório das Nações Unidas.

De acordo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, realizado ontem, apesar dos esforços crescentes de muitos governos para combater o problema, a situação global está se tornando mais aguda conforme os países em desenvolvimento se juntam ao Ocidente na contramão, queimando enormes quantidades de combustíveis fósseis.

Mas qual seriam as consequências?

Bem trágicas, na verdade.
Segundo o grupo de cientistas e outros especialistas que participaram do encontro, se a redução nas emissões de gases estufa não acontecer muito em breve, poderíamos passar por mudanças que ameaçariam a sociedade com a escassez de alimentos, crises de refugiados, inundação de grandes cidades e algumas nações inteiras, extinção em massa de plantas e animais e um clima tão drasticamente alterado que poderia ser perigoso para as pessoas trabalhar ou simplesmente ficar ao ar livre durante as épocas mais quentes do ano.
O novo relatório da ONU deixa bem claro que a “continuação na emissão de gases estufa implica em mais aquecimento e mudanças de longa duração em todos os componentes do sistema climático, aumentando a probabilidade de impactos severos, invasivos e irreversíveis para as pessoas e os ecossistemas”.

Qual é a novidade?

Se você não mora em uma caverna, provavelmente já ouviu falar em todas essas coisas e consequências terríveis. Então o que mudou nesse novo relatório da ONU?
Bom, se isso sempre foi falado e nenhuma medida realmente eficiente foi tomada, você já pode imaginar que o cenário está ficando cada vez mais complicado. Para expressar a gravidade da situação, o relatório usa um tom alarmante nunca antes usado. Durante o painel, os especialistas, mais do que das outras vezes, fizeram questão de deixar bem claro o quanto a sociedade está em perigo se uma política séria de controle do agravamento do aquecimento global não for colocada em prática imediatamente.

Ações

Isso exigiria deixar a grande maioria das reservas mundiais de combustíveis fósseis no solo ou, uma alternativa, investir no desenvolvimento de métodos para capturar e enterrar as emissões resultantes da sua utilização, disse o grupo.
Se os governos se comprometerem a atender suas próprias metas de limitar o aquecimento do planeta a não mais de 2 graus Celsius, devem restringir as emissões provenientes de combustíveis fósseis adicionais para queima de cerca de 1 trilhão de toneladas de dióxido de carbono, disse o painel. Se seguirmos nas taxas de crescimento atuais, esse orçamento é susceptível de ser esgotado em algo em torno de 30 anos, possivelmente antes.
No entanto, as empresas de energia têm preservado reservas de carvão e de petróleo equivalentes a várias vezes esse valor, e eles estão gastando cerca de US$ 600 bilhões por ano para encontrar mais. Nesse mesmo barco, então as empresas de petróleo que continuam construindo usinas e refinarias de energia movidas a carvão, e os governos que estão gastando mais US$ 600.000.000.000 (desse jeito os zeros vão entrar em extinção também) ou subsidiando diretamente o consumo de combustíveis fósseis.
Por outro lado, como o relatório também constatou, menos de US$ 400 bilhões por ano estão sendo gastos em todo o mundo para reduzir as emissões ou com alternativas de outras formas de lidar com essa tão temida (e real) mudança climática. Essa é uma pequena fração da receita gasta em combustíveis fósseis – e é menor, por exemplo, do que a receita de uma única empresa petrolífera como americana ExxonMobil.

Parece que não estamos remando para o lado certo

“A ciência tem falado e não há ambiguidade em sua mensagem”, disse Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas. “Os líderes devem agir. O tempo não está do nosso lado”, completou.
No entanto, não houve nenhum sinal de que os líderes nacionais estejam dispostos a discutir a atribuição do orçamento de emissões de trilhões de toneladas entre os países. Aliás, muito pelo contrário. Eles estão se movendo em direção a um acordo relativamente fraco que seria, essencialmente, deixar que cada país decida por si próprio o quanto de esforço deve colocar em limitar o agravamento do aquecimento global – e mesmo esse documento, que mais parece uma piada, não entraria em vigor até 2020.
“Se optarem por não falar sobre o orçamento de carbono, eles estarão optando por não resolver o problema da mudança climática”, disse Myles R. Allen, cientista do clima na Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, que ajudou a escrever o novo relatório. “Eles também não podem não se incomodar e virar as costas para essas reuniões”, alerta.

O que é o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima?

O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima é um órgão científico designado pelos governos do mundo para aconselhá-los sobre as causas e efeitos do aquecimento global, bem como as possíveis soluções para esse problema que já deixou de ser eminente para ser uma realidade. O grupo, juntamente com Al Gore, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 2007 por seus esforços para chamar a atenção para a crise climática que o nosso planeta enfrenta agora – e que promete ficar muito pior daqui para frente.
O novo relatório é uma sinopse de 175 páginas de uma série de reportagens realizadas durante o ano passado. Ele representa a etapa final de um esforço de cinco anos para analisar um vasto arquivo de pesquisas climáticas até então publicadas.
Esse também é o quinto relatório do grupo desde 1990. E cada um deles tem uma característica em comum muito forte: todos dão uma certeza cada vez maior de que o clima está cada vez mais quente e que as atividades humanas são a principal causa dessa mudança.
“A influência humana foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo global da água, em reduções de neve e gelo, e em elevação global do nível médio do mar; e é extremamente provável que também tenha sido a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século 20″, disse o relatório.

A mudança climática não é mais uma ameaça distante

Há alguns anos, isso era verdade. E ao ouvirmos falar do agravamento do aquecimento global, o tom era sempre de algo apocalíptico para um futuro muito distante. Mas, como bem diz a música de fim de ano da Rede Globo, o futuro já começou. O único detalhe é que não tem festa nenhuma acontecendo. Muito pelo contrário. A mudança climática já está sendo sentida em todo o mundo. “É aqui e agora”, lamenta Rajendra K. Pachauri, presidente do painel.

Repercussões

Em Washington, o governo Obama saudou o relatório, com o assessor científico do presidente, John P. Holdren, chamando-o de “mais um despertar para a comunidade global de que devemos agir em conjunto com rapidez e de forma agressiva a fim de conter as mudanças climáticas e evitar seus piores impactos”.
A administração está pressionando por novos limites para as emissões das usinas de energia norte-americanas, mas enfrenta forte resistência no Congresso e alguns estados.
Michael Oppenheimer, cientista climático da Universidade de Princeton e um dos principais autores do novo relatório, disse que a continuação da paralisia política nas emissões deixaria a sociedade dependendo da sorte para sobreviver. Não nos parece bom.
“Temos visto muitos governos atrasarem e demorarem na implementação de cortes de emissões abrangentes”, disse Oppenheimer. Assim, a necessidade de sorte paira cada vez mais sobre nossas cabeças. Ele completa sua declaração dizendo que acha um pouco delicado colocar o futuro do planeta nas mãos do destino. Especialmente porque temos atitudes de podem ser tomadas.
É difícil de discordar dele. Alguém se arriscaria? [NYTIMES]

Aquecimento global: há 95% de chance que sejamos responsáveis

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