Arena Fonte Nova
Quem disse que não haverá legado positivo a ser deixado pela Copa do
Mundo no Brasil? As doze arenas construídas nas cidades-sedes do maior
evento da Terra são exemplos de sustentabilidade reconhecidos
internacionalmente. Desde o uso de concreto reciclado na construção dos
estádios, sistemas de reaproveitamento de água das chuvas, a gestão
adequada de resíduos sólidos e a adoção de fontes renováveis de energia
para iluminação, outras tantas medidas foram adotadas para minimizar os
impactos ambientais. Inclusive a compensação de gases de efeito estufa,
que provocam mudanças climáticas, emitidos durante todo o evento.
O padrão dessas ações é muito mais do que FIFA. É padrão LEED
(Leadership in Energy and Environmental Design).
Boa parte das doze arenas brasileiras já recebeu o certificado LEED
concedido pelo US Green Building Council (USGBC), entidade máxima de
reconhecimento internacional de construções sustentáveis mundo afora.
Em uma classificação que vai do selo LEED Certificado, Prata, Ouro
até Platina , a autenticação máxima, assim ficaram as certificações das
arenas brasileiras: LEED Prata para o Maracanã (RJ), Fonte Nova
(Salvador), Mineirão (Belo Horizonte), Amazônia (Manaus) e Arena
Multiuso de Salvador, além de Certificado LEED para o Castelão
(Fortaleza). Nada impede que essa classificação melhore ainda mais. Se
aperfeiçoarem seus padrões de sustentabilidade, os estádios podem galgar
os selos mais nobres. Os demais estádios da Copa também passam por
avaliações para receber a certificação LEED.
Hoje o Brasil já é o quinto país com maior número de projetos de
edificações sustentáveis do planeta. Temos no país o significativo
número de três milhões de metros quadrados brutos de espaços com
certificação LEED. As novas arenas contribuíram muito para que essa
posição de destaque fosse alcançada.
A LEED é o selo verde supremo para reconhecer construções
sustentáveis. Não é fácil conquistá-lo. Os critérios exigidos pela USGBC
são rígidos e englobam os parâmetros econômico, social e ambiental que
compõem o
triple botton line do Desenvolvimento Sustentável. Eles
são mensurados em quesitos de liderança, inovação, gestão ambiental e
responsabilidade social. Utilizada em 143 países, essa certificação
avalia, entre outros, detalhes como a minimização de prejuízos
socioambientais no entorno das construções, a economia de água, a
utilização de novos materiais e de fontes de energia alternativas.
“À medida que os olhos do mundo caem sobre o Brasil, estes projetos
estão demonstrando não só a aplicabilidade e a adaptabilidade do sistema
de classificação do LEED no mundo inteiro, mas também a posição de
liderança do país na vanguarda do movimento para construções
sustentáveis de alta performance”, reconheceu Rick Fedrizzi, CEO e
presidente fundador da USGBC, esta semana.
Para atingir o nível de qualidade desejável é preciso muito
treinamento do pessoal envolvido na construção e administração das
arenas. Segundo o site da FIFA, um workshop foi lançado em agosto do ano
passado para melhorar o nível de conhecimento sobre as operações
sustentáveis nas arenas. “São noções básicas e bem interessantes de como
administrar uma arena de forma sustentável, respeitando as pessoas e a
comunidade do entorno do estádio”, disse Lucas Silva, responsável pelo
departamento de sustentabilidade da arena Pernambuco.
A arena Fonte Nova, na capital baiana, foi a primeira a receber o
selo LEED. Era preciso atingir 40 pontos em requisitos básicos para
conquistá-lo. O estádio, entretanto, conseguiu cumprir 53 pontos
garantindo o LEED Prata. Contou positivamente o fato de que 100% do
concreto do antigo estádio demolido foi reaproveitado na nova
construção. O teto inovador que capta água das chuvas, a ventilação e
iluminação naturais privilegiadas somaram pontos importantes.
Outros estádios que ainda não receberam a certificação também estão
envolvidos em ações sustentáveis. O Mané Garrincha, em Brasília, tem
quatro reservatórios para coleta de água das chuvas, garantindo até 40%
de economia de água. O Itaquerão, em São Paulo, – ou arena Corinthians,
como também é chamada – pretende cumprir uma missão quase impossível,
sugerida pelo arquiteto alemão Werner Sobek, um dos autores do projeto
arquitetônico do estádio: colocar em prática o conceito de Triple Zero,
onde é preciso zerar o uso de energia, de desperdício e de emissões. Se
conseguir, certamente terá um selo LEED. Contudo, ainda falta resolver
questões tão simples como a implantação de bicicletários para os
torcedores que querem chegar à arena pedalando.
Já a arena Pantanal, em Cuiabá, também se empenha. Além da economia
de água e energia, foram plantadas mais de duas mil mudas vegetais em
áreas degradadas ao longo do rio Cuiabá, a fim de compensar a retirada
de 230 árvores, necessárias para a construção do estádio. Finalmente, as
fan fests que pipocam nas capitais-sede também estão coletando todo o lixo produzido para encaminhar à reciclagem. Nas
fan fests de Porto Alegre até mesmo o caminhão de coleta desses resíduos é movido a biogás.
Claro que a turma dos deprimidos vai esbravejar lembrando do
superfaturamento e do uso de verba pública na construção das arenas. Nem
tudo são flores. Todas essas medidas de sustentabilidade, entretanto,
servem com um delicioso alento e deixarão, sim, uma herança exemplar a
ser seguida em qualquer empreendimento no país. É o nosso
fair play ambiental.