
Não
querendo estragar a viagem de ninguém, mas quem entrar em uma padaria
de Paris e pedir "un pain français, s’il vous plaît" ("um pão francês,
por favor") vai encontrar dificuldades. Mesmo após muita gesticulação,
deve sair apenas com um pedaço de baguete. Acontece que o pãozinho
também conhecido como "pão de sal" e "cacetinho", e que a maior parte do
Brasil chama de "francês", não existe na França.
Os encontros e
desencontros de tradução começaram no início do século 19. Naquela
época, o pão popular da França era curto, cilíndrico, com miolo duro e a
casca dourada - um precursor da baguete, que só consolidou a forma
comprida no século 20. Enquanto isso, no Brasil, o pão comum era um com
miolo e casca escuros, uma versão tropical do pão italiano.
Acontece
que, quando a elite do Brasil recém-independente viajava para Paris,
voltava descrevendo o pãozinho para seus padeiros, que faziam o possível
para reproduzir a receita pela descrição. Dessa gastronomia oral saiu o
"pão francês brasileiro", que difere de sua fonte de inspiração
europeia, sobretudo por poder levar até açúcar e gordura na massa. Assim
como o arroz à grega e o café carioca, a homenagem é alheia ao
homenageado. superinteressante (fonte)